Ascensão da Nova Mídia Direita Redefine Cenário Jornalístico

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A percepção da nova mídia direita nos Estados Unidos passou por uma transformação significativa, conforme apontado por Tina Nguyen, jornalista sênior do The Verge e autora de Regulator, em uma análise publicada em 15 de outubro de 2025. O termo, que antes abrangia veículos inovadores online, agora é amplamente empregado por figuras proeminentes do Partido Republicano para descrever exclusivamente a imprensa de viés conservador. Essa mudança reflete uma estratégia consciente de comunicação, visando contornar a mídia tradicional e direcionar a narrativa diretamente ao eleitorado conservador.

Recentemente, o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, e outros líderes republicanos realizaram um briefing exclusivo com a imprensa, limitado a veículos considerados “nova mídia”. O conteúdo dessa reunião foi posteriormente divulgado como um furo pelo Washington Reporter, uma publicação com foco no Congresso fundada por membros do Partido Republicano com a intenção de ser uma Punchbowl para conservadores. O evento foi descrito como uma forma de “esclarecer os fatos” e um dos meios mais recentes pelos quais os Republicanos da Câmara têm buscado comunicar sua mensagem diretamente aos cidadãos. Representantes da grande imprensa não teriam sido convidados para o encontro.

Ascensão da Nova Mídia Direita Redefine Cenário Jornalístico

O surgimento e a consolidação do conceito de nova mídia direita remontam, em grande parte, à administração anterior do presidente Donald Trump. Desde o início de seu mandato, a Casa Branca reservou um assento na sala de coletivas de imprensa para a “nova mídia”, recebendo milhares de pedidos de criadores de conteúdo e veículos conservadores. A iniciativa ganhou mais força com o “Podcast Row”, oferecendo a podcasters de direita a oportunidade de entrevistar funcionários do gabinete e ter acesso privilegiado. A então secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, descreveu a ação como uma “afronta” à “MSM” (sigla para mídia de massa, pejorativa para mídia tradicional) odiada, alegando em um vídeo no X que os podcasters convidados frequentemente possuíam audiência maior do que canais como a CNN. Este episódio destacou uma clara preferência e legitimação da mídia conservadora, enquanto outros, como o Pod Save America, notórios por uma visão progressista, provavelmente seriam excluídos.

Essa abordagem estendeu-se a outras esferas governamentais. Durante uma visita a uma instalação do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) em Portland, a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, manteve a imprensa a um quarteirão de distância, mas permitiu que o streamer Benny Johnson, alinhado à ideologia MAGA (Make America Great Again), a acompanhasse. O evento gerou controvérsia, principalmente após Johnson alegar que a secretária teria “enfrentado um exército de antifas” do telhado do prédio, embora seu vídeo mostrasse apenas cerca de doze manifestantes. No Departamento de Defesa, Pete Hegseth, assumiu a secretaria implementando um programa de rotação que realocou repórteres de veículos tradicionais de seus locais de trabalho dedicados no Pentágono, substituindo-os por emissoras como One America News, o New York Post e Breitbart.

As políticas de Hegseth no Pentágono resultaram em restrições ao acesso de jornalistas credenciados, culminando em uma exigência para que as organizações de notícias no Pentágono concordassem com um novo conjunto de regras. Essas normas proibiram a publicação de informações não autorizadas pelo Departamento de Defesa ou até mesmo a simples busca por material não sancionado. Enquanto a maioria das grandes agências de notícias, incluindo veículos conservadores como a Fox News (antigo empregador de Hegseth), protestaram contra a medida, a One America News prontamente aceitou as condições. Esta adesão solidifica sua posição dentro do círculo da “nova mídia” preferida pela direita. Caso essa tendência persista e se intensifique, a perspectiva é de um futuro onde a mídia alinhada à corrente MAGA terá acesso privilegiado, enquanto os veículos tradicionais e de herança serão consistentemente marginalizados.

Bari Weiss e a controvérsia do “Glass Cliff” na CBS News

Enquanto o cenário político se reconfigura com a ascensão da nova mídia de direita, questionamentos se levantam sobre o futuro e a natureza dessas mídias. Um exemplo notório é a aquisição do The Free Press, de Bari Weiss, pela Paramount, com Weiss assumindo a liderança da CBS News por um valor reportado de US$ 150 milhões. A jornalista Elizabeth Lopatto publicou uma coluna amplamente discutida, levantando a teoria de que Bari Weiss poderia estar enfrentando o fenômeno do “glass cliff” (penhasco de vidro). Essa teoria social descreve a situação em que mulheres são nomeadas para cargos de liderança em organizações que enfrentam momentos de crise ou grande risco de fracasso.

Lopatto argumentou que o currículo de Bari Weiss, notável por seu papel como editora-chefe do The Free Press – uma plataforma Substack mais inclinada à opinião e ao ensaio – não a qualificaria para a gestão de um veículo de notícias tradicional de grande porte como a CBS News. A vasta experiência em reportagem de campo, em meio televisivo, a habilidade de coordenar grandes equipes e a profunda compreensão do ciclo de notícias visuais seriam lacunas na trajetória de Weiss. Enquanto The Free Press opera com uma abordagem “de baixo risco”, focada em uma audiência de ideias afins, a CBS News atinge um público muito mais amplo e heterogêneo, com expectativas e demandas de conteúdo dramaticamente distintas. A transição de um formato baseado em texto e opiniões para a complexidade da produção televisiva ao vivo e a cobertura de grandes eventos representa um desafio monumental para qualquer profissional, e ainda mais para quem não possui experiência na área.

Ainda assim, há quem defenda a nomeação de Weiss, argumentando que sua solidez ideológica e a falta de “noções preconcebidas” sobre o jornalismo tradicional poderiam ser vantagens para revitalizar a CBS News. No entanto, críticos apontam que, apesar de sua postura “contrarian”, Weiss não é uma “MAGA” purista, descrevendo sua política como “Trumpista com ressalvas”. Isso sugere que ela pode servir como uma figura de compromisso para a direita, capaz de abrir portas no network para figuras conservadoras sem ser totalmente identificada com o movimento mais radical do Partido Republicano. Tal movimento se alinha a uma crescente tendência de figuras conservadoras ocuparem posições-chave em grandes conglomerados midiáticos, levantando questões sobre a independência editorial e a pluralidade de vozes.

Ascensão da Nova Mídia Direita Redefine Cenário Jornalístico - Imagem do artigo original

Imagem: JIM WATSON/AFP via theverge.com

Desafios na Convergência Digital e o Destino de The Free Press

A intenção de Bari Weiss de guiar a CBS News para um formato mais focado no digital e em plataformas como TikTok é ambiciosa, porém complexa. A criação de conteúdo em vídeo para televisão, diferentemente da dinâmica mais ágil e simplificada das redes sociais, exige um conjunto de habilidades específicas e investimentos significativos em infraestrutura e equipe. Elizabeth Lopatto ressalta a enorme dificuldade e o tempo consumido na produção de vídeos de alta qualidade, uma realidade distante do formato predominantemente textual do The Free Press.

Além disso, o sucesso no ambiente digital não garante, por si só, a sustentabilidade financeira para uma empresa de mídia do porte da CBS News. Embora plataformas online gerem publicidade e atraiam públicos consideráveis, o modelo de negócios da televisão tradicional ainda é a principal fonte de receita. Portanto, uma estratégia que desfoque do “gerador de receita” principal da CBS, ou seja, o conteúdo televisivo, em favor do digital, pode se revelar um erro. O desafio seria, na verdade, reimaginar formatos consagrados como o “60 Minutes” ou os noticiários noturnos para torná-los novamente essenciais para o público, em vez de simplesmente replicar o conteúdo televisivo no ambiente online.

Por fim, a venda do The Free Press para a Paramount levanta um dilema existencial para a própria organização. Seu ponto forte e proposta de valor era se apresentar como uma alternativa ousada à mídia tradicional, questionando e contradizendo narrativas de “conglomerados corporativos”. Agora, ao se tornar parte de um desses conglomerados, The Free Press se vê em uma posição irônica: ela própria se tornou o “establishment” que criticava. A habilidade de manter sua identidade e a credibilidade de sua proposta original é incerta, dada a mudança fundamental em sua estrutura de propriedade. Há também indícios de um estilo de gestão potencialmente microgerencial, sugerindo futuras turbulências e cortes, uma vez que uma liderança eficaz geralmente requer confiança e autonomia para os subordinados.

Diante do exposto, o panorama da mídia americana em 2025 é de profunda polarização e transformação. A “nova mídia” emergiu não apenas como um avanço tecnológico, mas como uma ferramenta estratégica na guerra cultural, redefinindo as regras de acesso à informação e influenciando diretamente a opinião pública em um contexto de crescentes desafios na área, como é discutido no Conselho de Relações Exteriores, sobre desafios contemporâneos da imprensa.

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A situação de Bari Weiss e a reestruturação da CBS News ilustram as complexas intersecções entre política, economia e a própria natureza do jornalismo na era digital. Entender esses movimentos é crucial para qualquer cidadão que busque se manter informado. Continue acompanhando a cobertura política e de mídias para aprofundar sua análise da cena, acessando outras análises em nossa editoria de Política e outras seções para mais insights.

Image via The Guardian.


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